vendi-me a ti,
tentando ser sempre aquilo
que achava que desejavas que eu fosse.
Inconscientemente comecei por deixar de comer
tudo aquilo que achava que me tornava assim,
depois de ver que não tinha obtido qualquer resultado
passado um mês achei que o ideal seria comer menos.
Deixei de comer!
A Dona Maria chegava,
fazia o almoço,
deixava-o na mesa
e quando ia ás arrumações dela
eu punha tudo cuidadosamente
para dentro de um saquinho
e deixava-o perto de uns caixotes do lixo
próximos do ginásio e das traseiras do Raposinha
onde os cães costumam estar a comer.
Foi preciso perder trinta quilos
e renovar o guarda-roupa seis vezes
para a minha mãe se aperceber
que o meu corpo já era pouco mais que esqueleto.
Só passado oito meses cheguei à conclusão
que não gostarias de mim pelos meus 65 ou 35 kg
e que se assim fosse não gostarias de facto de mim.
A minha mãe levou-me ao medico
e depois fui encaminhada para o psicólogo,
percebi finalmente quem eu realmente era,
descobri que tinha muito mais para dar do que pensava
e o meu corpo nada tinha a ver com isso.
Inconscientemente tinha-me vendido ao espelho,
tinha-me vendido a ti,
a quem me olhava e nem me conseguia ver.
Rita Castela
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