Reclamei sempre.
A minha filha de 18 anos dizia-me, com a maior das confianças e á vontade,que tinha tido amigos lá por casa na noite anterior e de facto não era difícil de acreditar.
Havia sempre muitos copos e garrafas vazias, uma grande desarrumação... A cara dela de ressaca no dia seguinte também tornava tudo bastante convincente.
Um dia cheguei a casa e ao contrário dos dias anteriores já não cheirava a tabaco, mesmo assim havia um maço em cima da mesa da cozinha.
Esta estava caótica, até com mobília fora do sitio. Mas eu nem quis saber da desarrumação. O meu foco era aquele maço de tabaco praticamente cheio. Recusava-me a acreditar que a minha menina fumava. Não podia ser dela!
Corri em direcção ao quarto dela e abri a porta de rompante. Lá estava ele! Abraçados um ao outro com um ar muito descansado. Nunca o tinha visto antes. Só consegui dizer "Bem me parecia! Bom dia" com um grande sorriso. Não consegui disfarçar a minha felicidade .
Ela deve ter ficado meio confusa, mas não me pareceu preocupada. Quando ela se levantou disse-lhe que tinha visto o maço na cozinha. Calculo que só ai ela tenha percebido a minha atitude feliz de detective que resolveu um grande mistério. Envergonho-me um pouco por essa felicidade infantil daquele dia, do tipo "apanhei-te". Deve ter pensado que não confiava nela. Nem bati à porta. Invadi-lhe assim de rompante o seu quarto, mas, principalmente, a sua privacidade, só para me certificar que ela continuava a ser a minha menina e que aquele maço de tabaco não era dela. E ainda fiquei feliz o resto do dia.
Ainda me arrependo passado todos estes anos. Nem nunca tive coragem de lhes pedir desculpa.
Eles não parecem importados, pelo menos riem-se sempre quando conto a história em almoços de amigos e família. Não me farto de a contar, todos parecem gostar.
Só espero não dar ideias aos meus netos.
(Há 10 anos ela disse-me que era só um amigo, hoje tenho o prazer de lhe chamar genro. E sei que ela nunca fumou)
Vítor Sousa
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