terça-feira, 3 de novembro de 2015

Cartas a todos nós XXI



Não me lembro da última vez que dormimos agarrados um ao outro.
A verdade é que nem tenho vontade de o fazer, apesar de me lembrar que é uma sensação reconfortante.
Já não te amo e, certamente, tu também já não me amas. Mas não leves a peito, nem de mim gosto por esta altura.
Gosto do nosso filho. E é nele que penso. Tenho-lhe um amor incondicional e incalculável, é tão bom o prazer de olhar para um ser humano e poder pensar “fui eu que fiz isto”, pensar que está ali bem presente a continuação do nosso ADN. Acredito que este seja um sentimento que partilhemos. Talvez também seja isso que te faz ficar.
Mas que situação tão desagradável fingir que se ama -  ou melhor dizendo : ignorar que se deixou de amar. Continuar a festejar anos de casamento quando já só desejo que ele termine. Dias dos namorados quando já não há amor. Dar as mãos só porque parece bonito e fofinho. Questiono-me muitas vezes quanto tempo mais conseguirei fazê-lo.
Porém sou te tão grata por teres trazido ao mundo comigo este belo menino. Grata por ele ter o teu sorriso, os teus lindos caracóis… Aquela pele branquinha. Foi, sem dúvida, feito com amor.
Sou te grata por teres estado comigo em tantos momentos difíceis da minha vida. Grata pelo amor que senti por ti, grata pelo amor que sentias e pelas raras vezes que o mostravas. E é por te estar grata que me sinto obrigada a ficar. É pelo nosso filho e por um futuro normal para ele.
Será também por isso que ficas? Será por ser comodo? E até quando durará?

Paula Sousa

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